Situação ilustrativa

Vendo-se obrigado a viajar em negócios, o Leão delega na Ovelha todas as responsabilidades e consequentes poderes de legislar, julgar e aplicar sentenças sobre toda e qualquer situação.
Nesta posição a Ovelha aproveita para foder a cabeça ao seu arqui-inimigo... o Lobo.

Vai daí, conhecendo os seus hábitos, a Ovelha coloca-se na estrada onde, todos os dias, o referido Canis Lupus passeia na sua mota, sem capacete. Quando ele vai a passar a Ovelha, qual polícia sinaleiro, manda-o encostar e, nem duas nem três, acerta-lhe logo a real galheta, acompanhada do típico discurso pseudo-moralista: "Vai mas'é buscar o capacete! Tou preocupadíssima com a tua segurança."

Passa um dia.... passam dois... e a bela da Ovelha, com uma barriga cheia de satisfação, vai contando as galhetas que lhe assenta...

Bom, toda a gente tem o seu limite. O nosso amigo Lobo também. E decide passar à acção. Liga ao Leão e resmunga sobre a prepotência da Ovelha. O Leão, do alto da sua sapiência sossega o Lobo e assegura-lhe que vai tentar remediar o problema.

Diz o Leão à Ovelha (ao telefone):
"Tou! Ovelha pah! Olha aí uma cena... não podes tar constantemente a foder a cabeça (e o focinho) ao Lobo por causa do capacete... man... durante anos o gajo fez aquela estrada sem quicko e eu nunca lhe disse nada... tens que ver que o gajo já tá habituado... é assim: se lhe queres foder a tromba faz a cena com jeitinho... e mais discretamente... tens que compreender o hip-hop da cena do poder. Vais fazer assim: da próxima, em vez de lhe dares logo uma marretada mal ele chegue à tua beira, arranjas uma boa desculpa: pedes-lhe um copo de vinho, e como ele não se vai preocupar em perguntar que vinho é que tu queres, tens a tua desculpa: se ele te trouxer branco, malho no focinho, dizes que querias tinto; se ele trouxer tinto, malho no focinho, dizes que querias branco.
Tens que atender aos parâmetros do protocolo instituído. Queres malhar no moço? Malha! Mas malha com boas desculpas... a cena tem que ser sem barulho e bem feitinha... bem engendrada, tás a ver?"

Diz a Ovelha ao Leão (ainda ao telefone):
"Tás aí a partir oh filhote! Valiosas palvras são as tuas oh magnânimo e ultra-mega-super-espectacular Leão dos Bosques Bravios das Etiópias Setentrionais.
Vou aproveitar para te prestar aqui uma singela homenagem...

Gosto muito de te ver, leãozinho
Caminhando sob o sol
Gosto muito de você, leãozinho

Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho

Um filhote de leão raio da manhã;
Arrastando o meu olhar como um ímã...
O meu coração é o sol, pai de toda cor;
Quando ele lhe doura a pele ao léu...

Gosto de te ver ao sol, leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele, tua luz, tua juba

Gosto de ficar ao sol, leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você e entrar numa"

Diz o Leão à Ovelha:
"Brigadão oh menina... Já tou aqui c'a lágrima no canto do olho... curto tótil o Caetano... Vai lá à tua vida..."

No dia seguinte, armada de todas estas novas estratégias, e ansiosa por pô-las em prática, a Ovelha dirige-se ao já conhecido cenário junto à estrada...

Eis que ressurge o Lobo... ainda sem capacete.

Bom, à vista da Ovelha, quase perde o controlo da sua Casal-Boss-Zundapp (4 gears). Lá se chega à beira dela, meio encolhido (como quem já sabe o que aí vem...) e começa com as desculpas do costume.

A Ovelha interrompe-o logo e diz: "Caguei pa essa merda toda. Vai mas'é buscar-me um copo de vinho."

Diz o Lobo: "Mas queres branco ou tinto?"

Ignorando todas as regras de boa conduta e repuxando o remo atrás, a boa da Ovelha aplica-lhe uma daquelas à moda antiga, com pimenta extra a acompanhar, dizendo: "Fodass! Vai lá buscar a merda do capacete!!!!!!!!"


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Compreendemos perfeitamente o vosso ar de espanto e esses pequeninos pontos de interrogação que cirandam em torno dessas cabecinhas... mas atentem no título.

Depois de lida a história com atenção tentem estabelecer a analogia necessária com a nossa sociedade política.
Será que, quer queiramos, quer não, eles lá arranjam forma de nos "malhar uma"...?